Com o metaverso, a internet vai acabar? Depois de tantos dizerem que a internet mataria todas as demais formas de comunicação, agora ela é a mais nova ameaçada de morte. Uma das frases que o Google sugere em seu serviço de busca é “what will replace the internet” (“o que substituirá a internet”). No momento em que escrevo este artigo, foram encontrados mais de 700 milhões de resultados que podem ser sintetizados em uma só palavra: metaverso. Trata-se de um espaço digital que replica e amplia a realidade.
Esse fenômeno é tão irônico quanto equivocado, assim como também foram equivocadas as promessas de que o cinema mataria o teatro, o rádio mataria os jornais e a TV mataria o rádio. Cassiano Gabus Mendes, por exemplo, disse para a Revista do Rádio: “O rádio vai sumir… Daqui a uns dez ou vinte anos, sim. Mas que vai, vai”. Essa frase foi publicada na edição de 25 de novembro de 1952. Sendo assim, pelas contas de Cassiano, o rádio teria acabado entre 1962 e 1972. Entretanto, aqui estamos nós, às portas de 2022, sendo informados pela Kantar Ibope Media de que 80% da população brasileira ouve rádio.
Metaverso: caminho para a renovação do Facebook
Ainda que metaverso seja um dos assuntos mais comentados na atualidade, a verdade é que esse conceito não é inédito. O ‘Second Life’, criado em 1999 e lançado em 2003, já oferece isso. O metaverso foi recolocado nas manchetes graças ao Facebook. Enfrentando severa crise de imagem e crescente concorrência, principalmente pelo público jovem, a companhia de Mark Zuckerberg decidiu lançar uma nova marca corporativa e anunciar seu novo empreendimento. As duas ações estão intimamente ligadas, visto que o nome Meta faz óbvia alusão ao metaverso.
Com o metaverso, a internet vai acabar? Em um vídeo com cerca de uma hora e vinte minutos de duração, Zuckerberg e seus executivos trataram de diferentes atividades virtuais: ensino, dança, jogos, shows e, sobretudo, vendas. “O comércio será grande parte do metaverso”, disse Vishal Shah, vice-presidente da Meta. Esse movimento representa um ajuste importante no modelo de negócio da companhia, que troca o primado da publicidade pela evolução do conceito de marketplace. O metaverso reuniria lojas tridimensionais que venderiam não apenas produtos físicos, mas também virtuais, feitos sob medida para uso dos avatares.
Na Zuckerberglândia, as relações seriam construídas de forma mais direta, entre indivíduos e marcas, em ambientes que misturam elementos concretos e virtuais
Nenhuma parte da longa apresentação foi exclusivamente dedicada àquilo que hoje é fonte de parte relevante do tráfego (e das polêmicas) do Facebook: informação, seja ela confiável ou não. A empresa de Mark Zuckerberg, fortemente associada às fake news, passou a impressão de que quer recomeçar, mas bem longe da armadilha que ela montou e na qual ela própria caiu. A publicidade em troca de clique ergueu uma gigante em termos de faturamento, mas pôs em xeque o sistema político de vários países e a saúde de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Os efeitos legais de tanta desgraça agora ameaçam os negócios do Facebook, que se viu obrigado a mudar.
Ao que parece, no metaverso, o “você é o que você posta” dará lugar ao “você é onde você está e com quem você está”. Nas redes sociais de hoje, tudo é mediado por fotos, textos e vídeos. Já na Zuckerberglândia, as relações seriam construídas de forma mais direta, entre indivíduos e marcas, em ambientes que misturam elementos concretos e virtuais. Consumo, emoções e relações ditariam as normas. Conteúdos, portanto, perderiam protagonismo. Parafraseando Marshall McLuhan, seria um meio sem mensagem.
Em tempo: é preciso reconhecer que já existe um veículo de comunicação cujas mensagens envolvem muito pouco ou quase nada além de sensações. Eu me refiro ao TikTok. Ainda que o jingle cantado por Emicida fale em aprendizado e mencione a palavra “conteúdo”, fato é que essa rede social prioriza as reações puras e simples do usuário, não o teor daquilo que transmite. Ronaldo Lemos, cientista chefe do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), promete lançar em 2022 um livro no qual aprofundará essa discussão, que é tão relevante quanto sensível.
O metaverso e o setor de comunicação
Diante de todos esses movimentos, surge uma pergunta: quais as consequências (e oportunidades) do metaverso para os veículos de comunicação? É cedo para fazer considerações mais robustas. A própria Meta (leia-se Facebook) disse que ainda falta para o seu metaverso chegar ao público. Mesmo assim, a prioridade da tríade consumo, emoções e relações sugere que, no metaverso de Mark Zuckerberg, a produção de conteúdo caminharia, mais do que nunca, junto com a produção de atividades (ou experiências, como alguns preferem chamar). Nesse contexto, projetos especiais ganhariam novas possibilidades: ativação de marca em pontos de venda tridimensionais, promoção de shows virtuais e até sorteio de produtos para avatares.
De que forma os conteúdos jornalísticos serão produzidos e consumidos no metaverso?
A par de tanta especulação, é essencial que certas perguntas sejam respondidas para que os profissionais de comunicação tenham maior noção do futuro. De que forma os conteúdos jornalísticos serão produzidos e consumidos no metaverso? Qual será o modelo de remuneração para empresas e profissionais envolvidos nessa produção? O Brasil terá uma conexão à internet boa o suficiente para suportar o metaverso? Como se dará a regulação desse mercado? As pessoas estarão dispostas a gastar com novos aparelhos, como luvas e óculos, para entrar no reino encantado de Zuckerberg? Haverá algum esforço mais efetivo em prol da inclusão digital? Em suma: o metaverso veio mesmo para ficar ou é apenas um estratagema para mudar o foco do noticiário em torno do Facebook?
Fonte: https://portal.comunique-se.com.br/
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